Diário de um divorciado louco

Um diário, de um divorciado, com noticias, pensamentos, reflexões e tudo que você precisa saber de um "louco" e que pode com certeza melhorar a sua vida! Ou não...

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segunda-feira, 31 de julho de 2017

Quando é hora de terminar o relacionamento?

Quando é hora de terminar o relacionamento?

Meninas, nesta nova idade média da qual nos aproximamos com a velocidade da fibra ótica, o e-mail de hoje é fulcral. Recebido, inclusive, com a velocidade da fibra ótica que me abastece e me conecta com a vida o tanto que me desconecta dela, divido-o com vocês:

29 DE JULHO DE 2017


“João, eu não estou bem. Minha cabeça tá pesadíssima de um jeito que parece que só consigo sair da cama se andar o dia todo curvada. Eu sei que tem a crise econômica e política, que tá duro pra todo mundo, mas é que pra completar isso tudo – ou talvez acima disso tudo – sinto toda noite um arrependimento que me aperta o coração. Ando tão miudinha que, sério, esse coração hoje deve ter o tamanho de um de galinha…

Já faz uns dois anos que terminei meu antigo relacionamento. O estranho é que eu não tinha exatamente vontade de terminar. Rolou um desgaste e uma distância física por xis motivos. No fim desse processo todo, meio sem entender exatamente a cadeia de coisas, ele e eu rompemos.

Até aí, a gente vai levando a vida anestesiada como em todo rompimento. Só que… Só que logo eu me envolvi com esse cara que se tornaria meu atual namorado. Pra início de conversa, o começo já foi avassalador, mas nunca muito tranquilo. Gosto dele. Me envolvi e vejo qualidades nele que me deixam grande. O negócio é que, o tempo correndo, o que eu desconfiava de ruim como pequeno e contornável no início se tornou imenso e esmagador.

Em resumo, acho que ele e eu não combinamos. Acho… Isso foi ficando mais claro pra mim porque eu, hoje, sinto saudades diárias do meu ex. E, olha, não é por falta de pesquisa e ponderação que eu sinto isso. Eu sei que a gente tem a tendência de melhorar na memória a figura do ex. De vê-lo como um porto seguro. Sei disso. Mesmo assim, sinto uma falta infinita dele e olho pro meu atual com cada vez mais indiferença, insegurança.

Não que meu atual seja uma pessoa péssima. Tem defeitos e qualidades do seu jeito. Mas eu vivo com ele um clima como o de alguém que a cada quinze dias vive um fim de namoro. Ele é agressivo e pratica isso que aprendi se chamar de gaslighting: ele puxa qualquer briga pra outras brigas, estende a conversa num ponto em que já nem sei mais o que de verdade estamos discutindo, muda a versão do que aconteceu, do que disse, do que ele disse freneticamente a ponto de eu mesma duvidar se o que lembrava com tanta certeza aconteceu mesmo… Quando ele erra, a desculpa dele é quase uma disputa comigo. Ele precisa pedir desculpa comparando algo que eu também já fiz de errado. Assim, ele me deixa pra baixo constantemente.

Obviamente, o inverso, quando acontece, quando ele é legal, também é sensacional e me encanta a ponto de me deixar paralisada, apaixonada. Mas estou mal. Me sinto vazia. Menor. Dividida. Quase que o tempo todo.

E não consigo sair dessa situação. Sinto que se fizer isso, ficarei sozinha e ainda pior. Enfim, não sei o que fazer. O que você acha, João?”

O PESO DO MUNDO


Meninas, não sou guru e não tenho resposta definitivas. Aliás, eu tenho, sim, uma resposta definitiva. A resposta definitiva é: sei lá, eu não sei.

No fim, faça cada um o que sentir que deve, que cabe, que aguenta.

Mas eu posso e quero chutar umas opiniões assertivas.

Sentir saudade do ex não significa necessariamente uma desordem interna, como se convencionou dizer. As pessoas estão muito aferradas à ideia de que tentar de novo, voltar ao que já foi, é um erro, uma fuga, um consolo. Não sei bem se é assim…

Tenho pra mim que andamos desistindo demais das coisas. Tenho ainda mais pra mim que estamos perdendo a noção exata de que temos um tempo corridíssimo nesta terra. E que acabou, acabou.

Não confiem em guru, pelo singelo motivo de que o guru, sendo guru e tendo seus problemas de guru, precisa de um outro guru – que deve ter um outro guru; e assim vamos até o firmamento.

Confie na sua jornada, nos seus erros e nos seus acertos. Errem, moças. Errem muito e sem medo. E aprendam. E acertem. Tentar novos relacionamentos, voltar aos antigos, tudo vale desde que seja no rumo de viver melhor.

O que nos leva ao relacionamento em questão no email aí de cima.

O QUE NOS DERRUBA NÃO NOS FORTALECE

Garotas, uma das ladainhas mais bocós que ensinam pra gente é que as quedas deixam a gente mais forte. Esse mantra está nos filmes, no gibi, nas redes, nos memes. Ó, suprema idiotice.

O que nos fortalece é feijão, ferro, boa comida, alegria, sexo, potência.

Cair pra depois levantar só estende o tempo que deveríamos encurtar em busca de sermos melhores. Nem no sexo isso é lá muito bom. O que não quer dizer que não haja sabedoria em nossas derrocadas. Há. Mas muito melhor do que sofrer para melhorar é melhorar sem sofrer.

A leitora acima deveria, na esfarrapada opinião deste que vos batuca, fugir desse sujeito como o diabo se esconde do detergente. Muito embora, e com o perdão da expressão, eu saiba que dizer isso é mais fácil do que fazer isso. Porque, muito mais embora ainda, eu sei que, provavelmente, fosse eu na mesma situação eu enrolaria da mesma forma. Sim, sim, eu também enrolaria antes de ter a coragem de fazer o que precisaria fazer.

Decidir é das coisas mais difíceis que existem quando se trata de coisas grandes da vida, incontroláveis, multifacetadas, complexas. Como abrir mão de um presente que erradicará todo um futuro? O amor é tudo isso. O amor comporta essa renúncia em sua alma. Que certezas temos diante do amor, meninas? Aliás, que certeza é essa de que podemos amar apenas uma pessoa? É possível amar mais de um, amar o presente e o passado. Amar até um terceiro, no futuro, que ainda não conhecemos.

O ponto é que a leitora acima – e pra mim isso reluz como uma estrela cadente – sofre. E sofre muito. Sofre inexoravelmente, numa curva sem retorno. Esse relacionamento, por mais que viva de fiapos de amor, é costurado por muita dor. Dor sem resolução. Dor abusiva.

Meninas, a vida é pequena demais pra gente acordar com o peso de outros mundos sobre nós. Quando o amor significar isso, quando o amor pesar isso, quando a gente se esforçar pra pensar que isso tudo é só uma fase, essa é a hora de partir.

VIAGEM AO CENTRO DO JARDIM

Moças, não vivam sob essa sensação medonha de, no presente, olhar pro futuro e, no futuro, olhar pro passado com igual angústia. Essa é a nossa vida, agora, irrepetível, incontornável. Temos uma profunda negação de aceitar que somos especialíssimos, cada um de nós.

A não ser que você aí, que me lê, olhe pro outro, perceba como o tempo todo vivemos divididos num problema tostiníssimo: achamos, diante do espelho, que somos centrais ao universo, especiais, únicos. Mas o tempo todo estamos à sombra do outro (seja ele o namorado, o chefe, o amigo, o inimigo, o ex e o atual), que parece ter a vida sempre melhor – ou ao menos mais leve – do que a nossa.

Meninas, para encerrar, preparem-se pra um viajol sem freio nem trilho: reparem no seguinte:

Reparem como o outro está sempre uma escadaria inteira mais perto do Olimpo do que nós.

Percebem? Se não percebem, abram o Facebook e o Instagram e sintam o turbilhão de amores, empregos, conquistas e férias melhores do que os nossos.

Estamos sempre mais distantes do que queríamos do paraíso. Mas perceba uma inversão capciosa nisso. Ao sempre nos comparamos com o outro, esquecemos que você aí e eu aqui também somos o “outro” pra alguém. Eu sou o outro pra você aí, que me lê. Você aí, certamente, espera ou imagina a minha vida mais ensolarada que a sua. Eu talvez faça o mesmo com você, te imaginando serena, sereia e cheia de iates.

Eis o nosso inferno, meninas. O inferno a ser combatido: estamos condenados a ser eternamente o “outro” para alguém. Eu sou sempre mais feliz e mais completo do que me sinto, aos olhos do outro. E o outro é sempre mais completo e feliz aos meus olhos.

O que me leva, enfim, pro exercício supremo da vida e do amor: precisamos aprender a nos ver com os olhos que miramos os outros.

Pra que o outro deixe de ser inferno e seja espelho.

Pra que possamos escapar desse amor que é posse e que nos faz posse

Pra que vejamos que, no fim, nem tudo é tão diferente assim.

Pra que a leitora acima tenha a coragem de escapar deste infernal amor que ela vive.

Pra que ela busque, seja no amor passado, seja no futuro, um jardim mais verde.

A vida é boa. É só olhar

Fonte: Marie Claire

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