“O que eu aprendi sobre monogamia após trair meu namorado diversas vezes”
“Minha infidelidade sempre foi uma questão sobre mim, nunca sobre ele”, declarou Melissa*em depoimento à Marie Claire norte-americana
AMOR E SEXO 13.12.2016 - 06H01 POR REDAÇÃO MARIE CLAIRE
"Para ficar bem em um relacionamento, eu precisava me acertar comigo" (Foto: Thinkstock)
“Rick foi meu primeiro namorado, minha paixão da escola, meu parceiro de quatro formaturas. Ele foi o primeiro cara que eu trouxe para casa e que pode olhar nos olhos da minha mãe. Um cara legal. Um ano depois que nós começamos a namorar, cheguei em casa depois da escola e descobri que meu pai tinha ido embora. Simplesmente trocou minha mãe por outra mulher. Eu nunca tinha lidado com abandono. Então, me consolei com a ideia de que Rick me amava e nunca me deixaria, como meu pai havia feito. Não importava o fato de que a medida que crescíamos, ficávamos menos compatíveis – ele era tudo o que meu pai não era.
A primeira vez que traí Rick, nós éramos calouros da faculdade e eu estava vivendo no México como uma intercambista. Dormi com um cara que trabalhava em uma bodega na rua onde eu morava. Disse a mim mesma: ‘O que acontece no México, fica no México’. Não contava. Mas aconteceu novamente. Uma noite, eu estava bêbada e levei para casa o cara que conheci em uma festa. Disse a mim mesma que havia sido um erro. Continuei namorando o Rick. Eu nunca contei pra ele e ele nunca descobriu.
Muita gente acredita que monogamia simplesmente não existe. Eles dizem que os seres humanos simplesmente não existem para estar com uma só pessoa e que já é hora de acabar com esta convenção. Desta maneira justifiquei minhas transgressões, dizendo a mim mesma que eu não poderia controlar isso. Era da natureza humana.
Eu não parei.
Meu primeiro affair duradouro aconteceu há alguns anos, depois que eu e o Rick nos formamos. Desta vez foi diferente. Brie e eu nos tornamos primeiro amigas. Nós confiávamos e respeitávamos uma à outra. E isso não mudou quando começamos a transar. Achei que estava apaixonada por ela. Então abri o jogo com o Rick e contei que estava tendo um caso.
Achei que se contasse para ele sobre Brie, eu seria absolvida por todas as minhas culpas do passado, mas isso não aconteceu. Rick ficou devastado; foi tudo culpa minha. Para ele, o fato de a amante ser uma mulher não fazia nenhuma diferença. Ele queria resolver isso, e eu senti que não tinha escolha. Me convenci de que Brie havia tirado vantagem de mim e que tudo isso tinha sido um erro.
Depois do meu caso com Brie, eu redobrei meus esforços para ter controle sobre a situação: tentei ser ‘boa’. Parei de beber e comecei a correr maratonas. Deixei meu trabalho e voltei para a faculdade para me tornar uma escritora. Dois anos depois, Rick e eu ficamos noivos.
Mas na faculdade, conheci um novo grupo de pessoas. Eles pensavam como eu e liam os mesmos livros que me interessavam. Nós conversávamos sobre liberdade sexual. Passei a me considerar sex-positive [ achar que a liberdade sexual é um componente essencial da emancipação feminina], como parte de um movimento que abraça a sexualidade com poucos limites. O problema era que, quando se tratava de sexo, os benefícios políticos e sexuais sobre o assunto tornou mais difícil admitir que minha conduta sexual era problemática.
Eu era incompatível com a monogamia, ainda estava convencida disso. Desde que Rick quis ficar comigo, ele aceitou isso.
Justin foi um rapaz que conheci na faculdade. Nós conversávamos online o dia inteiro enquanto eu estava no trabalho, e passamos a participar dos grupos de leituras literárias juntos, à noite. Nós éramos vistos com tanta frequência que as pessoas começaram a achar que estávamos tendo um caso. Secretamente, comecei a curtir isso. Não importava o fato de eu estar noiva do Rick. Justin era escritor, destinado ao sucesso e popular. Embora nossa relação fosse somente sexual, parecia inevitável.
Numa outra noite qualquer, um rapaz chamado Elliott foi para a minha casa depois da aula. Nada do que conversávamos era interessante, mas eu poderia afirmar que ele estava interessado em mim e eu gostava da ideia de se sentir desejada. Sob o pretexto de fazer coisas da escola, começamos a trocar e-mails diariamente. Justin e Elliott eram amigos, e eu mantive as relações em segredo.
A impossibilidade de estar com um deles era o que me excitava. Elliott sugeriu um dia que eu não poderia flertar com ele porque eu tinha um noivo. Ouvir um “não” só me encorajava. Eu admirava sua resistência.
Então, um dia em que estava bêbada, me inclinei para o Justin e o beijei. Ele me beijou de volta. Eu me arrependi imediatamente, sabendo exatamente o que iria acontecer. Eu sabia que ele iria se tornar inseguro e possessivo. Tal como meu relacionamento com Brie, minha amizade com Justin seria destruída. E como a única maneira que me ajudava a lidar com um arrependimento era repetir o feito, aquele beijo nos levou a um caso de curta duração, que levaram a uma série de outras infidelidades. No mês seguinte, qualquer chance que eu tinha de ficar bêbada, eu ficava. Beijei vários colegas de sala – passíveis de esquecimento, lamentáveis, encontros desleixados nos banheiros, escadas e becos.
Eu dizia que estava me divertindo, experimentando. Era mais do que uma diversão inofensiva. Eu fingia que Rick e eu tínhamos um relacionamento aberto. Me convenci de que nossas regras eram: ‘Não pergunte, não conte’. Mas ao mesmo tempo, ficava ressentida pelo fato de Rick não me questionar. Perdi o respeito por ele. Perdi o respeito por todos que saíam comigo. Perdi o respeito por mim.
No fundo, carregar uma série de relacionamentos foi um jeito complicado de evitar intimidade. Agarrei-me ao Rick, apesar de ter sido um ajuste doente. Porque ele não satisfazia a minha carência, eu traí. Eu nunca estive completamente presente em nenhuma relação e, assim, evitava ser vulnerável. Com tudo isso, minhas ações eram motivadas pelo medo de não ser amada e de ser abandonada. Quanto pior eu me sentia, mais buscava alívio.
Quando finalmente deixei Rick, levei tudo: os móveis, os cartazes nas paredes, as fotografias arrancadas dos álbuns. Cheguei numa noite depois que havia me mudado e encontrei Rick chorando, sozinho, sentado no chão. A sua feição era como se eu tivesse morrido, e então senti medo. Disse: ‘Para de chorar ou vou embora’.
‘Você está partindo de qualquer forma’, ele respondeu. ‘Não há nada que eu possa fazer para parar isso.’
Ele estava certo. Não havia nada que ele ou qualquer outra pessoa pudesse fazer para me parar. Eu era um monstro, abandonando alguém que eu amava. Eu era como meu pai.
Levei muito tempo para me recuperar. Enquanto isso Rick começou a namorar outra pessoa, menos de um mês depois de a gente terminar. Na mesma época, Eliott parou de responder aos meus e-mails. Ele estava me fazendo um favor, mas óbvio que eu não enxergava desse jeito. Quando Elliott se recusou a dar um passo a diante e me resgatar, fiquei desesperada. Me senti abandonada. Estava irritada com meus amigos. A recuperação começou quando eu finalmente comecei a ter responsabilidade pelas minhas ações: fui para a reabilitação por conta do alcoolismo, e meu vício por amor e sexo.
Não me recuperei completamente. Eles me pediram para dar um tempo nos encontros, mas não conseguia. No meu sexto dia sóbria, entrei num relacionamento codependente que durou seis anos. Foi disfuncional, mas ao menos era monogâmico. Quando esse relacionamento acabou, namorei um monte de gente. Mas, eventualmente, fiquei sozinha por uns três meses, e foi um dos momentos mais transformadores da minha vida. Aprendi a curtir minha própria companhia. Senti a perda do meu pai e me familiarizei com os sentimentos dos quais fugia.
Hoje eu sei que, enquanto a poligamia pode ser da natureza humana, a traição não. Todo mundo é capaz de ser honesto sobre seus sentimentos, vontades e necessidades. Antes disso, eu culpei todo mundo pelas minhas traições e criei uma enorme quantidade de desculpas, mas quando se trata de infidelidade, eu não acho que exista sempre uma desculpa. O fato de eu estar em um relacionamento sério e monogâmico hoje é totalmente irrelevante. Para ficar bem em um relacionamento, eu precisava me acertar comigo.”
*O nome foi trocado para preservar a identidade da personagem
Fonte: http://revistamarieclaire.globo.com/Amor-e-Sexo/noticia/2016/12/o-que-eu-aprendi-sobre-monogamia-apos-trair-meu-namorado-diversas-vezes.html